O lado obscuro da Publicidade: como a ganância das marcas está corrompendo a ética e manipulando você (dados de pesquisa e embasamento científico)
- W. Gabriel de Oliveira
- 22 de set. de 2024
- 4 min de leitura

O avanço das estratégias de marketing, impulsionado pela globalização e pelo desenvolvimento tecnológico, tornou a publicidade um elemento central na sociedade contemporânea. No entanto, observa-se uma crescente obsessão pelo lucro que tem comprometido a ética e a moralidade no setor publicitário. Autores como Naomi Klein, em "No Logo: Taking Aim at the Brand Bullies" (2000), argumentam que o branding ultrapassou a mera comunicação de produtos, tornando-se um vetor de exploração e manipulação de consumidores, especialmente os mais vulneráveis. Ela, por exemplo, analisa como a busca incessante por ganhos financeiros tem destruído a moralidade na publicidade, utilizando teorias críticas, dados de pesquisa, e exemplos contemporâneos para embasar a discussão.
O lucro acima da ética: uma análise teórica
Stuart Ewen, em "All Consuming Images: The Politics of Style in Contemporary Culture" (1988) (dê um desconto pela qualidade da capa, era final dos anos oitenta), discute como a publicidade se apropria de símbolos culturais e os distorce para induzir o consumo, esvaziando-os de seu significado original. Essa abordagem, que prioriza o lucro sobre os valores éticos, é evidenciada nas campanhas que exploram temas sensíveis como movimentos sociais, mas que carecem de um compromisso real com as causas apresentadas. A mercantilização de ideais, como o empoderamento feminino ou a sustentabilidade, revela uma postura cínica das marcas que, ao invés de promover mudanças genuínas, visam apenas aumentar suas vendas.
Uma pesquisa conduzida pela Edelman Trust Barometer (2022) revelou que 56% dos consumidores acreditam que as marcas estão usando movimentos sociais para fins puramente comerciais, sem um compromisso genuíno com as causas que promovem. Este dado reforça a ideia de que, para muitas empresas, a responsabilidade social é meramente um recurso de marketing, o que mina a confiança do público e compromete a moralidade na publicidade.
Dados que Exibem a Hipocrisia das Marcas
Estudos realizados pela Kantar (2021) apontam que apenas 37% das campanhas publicitárias que utilizam temas como diversidade e inclusão realmente refletem ações internas da empresa. Isso sugere que a maioria das marcas utiliza essas temáticas como fachada para conquistar consumidores engajados, sem adotar práticas que correspondam às suas mensagens publicitárias. Como aponta Sarah Banet-Weiser em "Authentic™: The Politics of Ambivalence in a Brand Culture" (2012), a estratégia de "branding da autenticidade" tem se tornado uma forma de manipulação sutil, na qual as empresas simulam um envolvimento ético sem realmente comprometerem-se.
Esse comportamento é criticado por Jean Baudrillard, que em "Simulacra and Simulation" (1981) argumenta que a publicidade cria uma hiper-realidade, na qual as marcas constroem mundos que não existem, mas que são aceitos como reais pelos consumidores. Nesse contexto, as empresas não vendem apenas produtos, mas ideias e identidades falsificadas que escondem uma estrutura de exploração e manipulação.
Publicidade e as novas formas de manipulação digital
A manipulação digital é outra face perversa da publicidade contemporânea. O uso de algoritmos e big data para personalizar anúncios exacerba as desigualdades e prejudica consumidores, direcionando-os para produtos e serviços que atendem aos interesses lucrativos das empresas, não às necessidades reais do público. Zuboff, em "The Age of Surveillance Capitalism" (2019), discorre sobre como a exploração dos dados pessoais tornou-se uma prática central para o lucro das grandes corporações, que utilizam informações privadas para influenciar comportamentos de compra de forma invasiva e antiética.
Dados do Pew Research Center (2020) indicam que 81% dos consumidores sentem-se controlados pelas plataformas digitais que utilizam seus dados para personalizar experiências de compra. Esta prática revela uma clara violação da autonomia individual, configurando um novo tipo de exploração, no qual o consumidor se torna tanto o produto quanto o alvo.
A publicidade e o impacto social da busca irrestrita por lucro
O impacto social das práticas publicitárias desmedidas vai além da manipulação individual. Estudos de caso, como o de campanhas com apelo a padrões de beleza irreais, revelam que essas estratégias têm efeitos deletérios na autoestima e saúde mental de crianças e adolescentes, como mostrado por Jean Kilbourne em "Can't Buy My Love: How Advertising Changes the Way We Think and Feel" (1999). A publicidade, ao promover ideais inalcançáveis, perpetua um ciclo de insatisfação e consumo compulsivo que beneficia exclusivamente as empresas.
Dados do Instituto Ipsos (2022) mostram que 62% dos jovens entre 13 e 18 anos se sentem pressionados pela mídia e pela publicidade a se conformarem a padrões específicos de aparência e comportamento. Esse dado expõe o impacto nocivo da publicidade irresponsável na formação da identidade de jovens consumidores.
Por isso, a obsessão pelo lucro a qualquer custo tem levado as marcas a adotar estratégias vergonhosas, que destroem a moralidade na publicidade e exploram vulnerabilidades dos consumidores. A crítica de autores como Klein, Ewen, Banet-Weiser, Baudrillard e Zuboff, independente da época em que cada um construiu suas reflexões, apenas reforça que a publicidade moderna não só manipula, mas também fere a confiança pública e degrada valores sociais. Em um cenário no qual o lucro sobrepõe-se a qualquer consideração ética, é fundamental que os consumidores, reguladores e os próprios profissionais da publicidade questionem e exijam uma postura mais responsável e autêntica das marcas.
Referências bibliográficas
BAUDRILLARD, J. Simulação e Simulacro. Universidade do Michigam Press, 1981.
BANET-WEISER, S. Authentic™: The Politics of Ambivalence in a Brand Culture. NYU Press, 2012.
EDELSON TRUST BAROMETER. Special Report: Brand Trust in 2022. Edelman, 2022.
EWEN, S. All Consuming Images: The Politics of Style in Contemporary Culture. Basic Books, 1988.
KILBOURNE, J. Can't Buy My Love: How Advertising Changes the Way We Think and Feel. Simon & Schuster, 1999.
KLEIN, N. No Logo: Taking Aim at the Brand Bullies. Picador, 2000.
PEW RESEARCH CENTER. Americans’ Attitudes About Privacy, Security and Surveillance. Pew Research Center, 2020.
ZUBOFF, S. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. PublicAffairs, 2019.
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