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A estratégia vergonhosa das marcas: como a obsessão pelo lucro está destruindo a moralidade na publicidade


Ilustração crítica mostrando figuras sombrias manipulando pessoas através de elementos como marionetes, megafones e telas digitais, sem exibir logomarcas ou elementos identificáveis.
A imoralidade lucrativa: como a manipulação de temas polêmicos alimenta o mercado da controvérsia.


A estratégia imoral da polêmica: lucro à custa do preconceito e da manipulação social


Em um cenário digital no qual a atenção é a moeda mais valiosa, muitas marcas e influenciadores adotam estratégias que não apenas são moralmente questionáveis, mas também danosas e irresponsáveis. Utilizar-se de temas polêmicos como machismo, homofobia, racismo ou discursos falsamente meritocráticos para viralizar conteúdos e atrair audiência é um expediente perverso e egoísta. Essa tática, ao invés de criar discussões construtivas, reforça preconceitos, valida discriminações e perpetua um ciclo de violência simbólica que atinge os mais vulneráveis. Vamos desconstruir a ideia de que essa estratégia é válida apenas porque gera lucro ou um público-alvo mais propenso ao consumo e expor o quão falho e moralmente degradante é esse método.


A reta antiga da polêmica para o lucro


Essa abordagem não é nova; na verdade, ela remonta a estratégias de propaganda do século passado, quando anúncios sexistas, racistas e elitistas eram a norma, explorando preconceitos para vender produtos. A diferença é que, na era digital, o alcance é exponencial e os danos, irreversíveis. Empresas e influenciadores constantemente lançam mão de discursos racistas e xenófobos para manter seu público cativo ou publicações de redes sociais que perpetuam a homofobia, por exemplo, em busca de engajamento, não estão apenas vendendo produtos; estão vendendo ideologias tóxicas que mancham o tecido social.


A falsa métrica do sucesso: lucro e visibilidade


Defensores dessa estratégia argumentam que “se está dando resultado, então está funcionando”. Contudo, esse resultado é puramente quantitativo e ignora o impacto social negativo. Não é difícil encontrar exemplos de marcas que se valem de controvérsias para viralizar: campanhas publicitárias que exploram o corpo feminino de maneira objetificante, empresas que se apropriam de discursos de minorias apenas para parecerem “woke”, sem qualquer compromisso real com a causa etc. Essas ações lucram em cima de temas que deveriam ser tratados com seriedade e respeito, transformando a dor e a luta de grupos marginalizados em moeda de troca.


O lucro à custa do preconceito: uma estratégia egoísta e cruel


A imoralidade dessa abordagem está na intenção subjacente: usar o sofrimento, a indignação e o conflito social para gerar capital. É um método de venda que se apoia na exploração de vulnerabilidades, transformando a discriminação em ferramenta de marketing. Isso não apenas perpetua estigmas como também cria um ciclo de retroalimentação, no qual o ódio e a desinformação são incentivados pela simples promessa de cliques e visualizações. Não há nada de inovador ou disruptivo nisso; é apenas uma repetição cínica das piores práticas do passado, agora potencializadas por algoritmos que recompensam o engajamento, independentemente do seu teor.


Os danos irreversíveis: quem sai perdendo?


Os maiores prejudicados por essas estratégias são, sem dúvida, os grupos alvo dos ataques: mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, pessoas obesas, pessoas com TEA, dentre outros. Mas o impacto não para por aí. Ao normalizar o discurso de ódio, essas campanhas criam uma sociedade mais polarizada, violenta e intolerante. A audiência que se envolve com esse tipo de conteúdo é manipulada para consumir com base em emoções negativas, o que, a longo prazo, gera uma desconexão com a realidade e um comportamento de consumo acrítico. E enquanto a indignação gera lucros para uns, ela gera dor e exclusão para muitos.


A miopia da estratégia: um jogo perigoso de curto prazo


Para as marcas, a estratégia pode parecer vantajosa em um primeiro momento, mas é insustentável. O público, cada vez mais informado e exigente, começa a identificar e rejeitar essas abordagens. A construção de uma reputação baseada em polêmicas é frágil e, com o tempo, o retorno se torna negativo, com boicotes, perda de credibilidade e uma associação permanente com a falta de ética. Já viu alguém assim, principalmente entre influencers, políticos ou artistas? A lógica de que “falem mal, mas falem de mim” é ultrapassada e míope, pois ela ignora que, em um mercado saturado de informações, a confiança do consumidor é o bem mais valioso. E essa confiança é destruída quando ele se sente manipulado ou enganado. Por isso, o desprezo pela ética e pela dignidade humana não gera lucro sustentável, mas ranço a longo prazo. Explorar polêmicas de maneira leviana não é apenas uma estratégia ruim; é um atentado à dignidade humana. Trata-se de uma abordagem egocêntrica e irresponsável, na qual o lucro se sobrepõe a qualquer noção de responsabilidade social. A tentativa de justificar tais ações com base em métricas de engajamento é moralmente falida e revela uma indiferença chocante para com o impacto que esses conteúdos têm na vida real das pessoas.


Explicação do óbvio: por que não vale a pena?


Não vale a pena seguir essa estratégia porque ela revela o pior da humanidade e rebaixa a idoneidade moral de quem a utiliza. Ela contribui para um ambiente tóxico e nocivo, no qual o respeito e a empatia são sacrificados em prol do lucro fácil. Empresas, influenciadores e políticos que se valem dessas práticas estão, na verdade, cavando a própria cova ética, afastando-se de um público cada vez mais consciente e comprometido com valores de inclusão, respeito e justiça social. No fim, o ganho financeiro imediato nunca compensará o dano social e a perda de confiança que se acumula ao longo do tempo. A verdadeira inovação está na coragem de criar campanhas que inspirem, que eduquem e que respeitem o público, e não em manipular preconceitos para vender produtos. É hora de deixarmos essas práticas arcaicas no passado e avançarmos para um mercado mais justo, ético e consciente.


Referências bibliográficas e uma forma de você aprofunde sobre esses temas:


ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.


CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.


HAN, Byung-Chul. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.


KLEIN, Naomi. Sem Logo: A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido. São Paulo: Record, 2002.


SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.




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