A subjetividade na arte e a ascensão da inteligência artificial: além da técnica
- W. Gabriel de Oliveira
- 9 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

Nos últimos anos, a ascensão da inteligência artificial (IA) tem gerado debates intensos sobre o papel da criatividade e do fazer artístico na sociedade contemporânea. Uma abordagem bem mais científica se faz necessária. O que levanta questões sobre a própria natureza da arte em um mundo onde máquinas estão cada vez mais capazes de produzir obras que se assemelham, em aparência, ao trabalho humano. Contudo, essa comparação revela um ponto crucial: a arte verdadeira vai além da mera habilidade técnica. Ela reside na subjetividade do artista e na sua capacidade única de absorver, sintetizar e devolver ao mundo uma visão transformada e profundamente pessoal.
A IA, por mais avançada que seja, opera dentro dos limites de algoritmos e padrões pré-estabelecidos. A criação artística por máquinas, embora impressionante em termos técnicos, carece da profundidade que caracteriza o trabalho humano. O neurocientista Miguel Nicolelis argumenta que a consciência e a subjetividade são exclusivas do cérebro humano, um produto de sua complexidade biológica e histórica. Essa perspectiva sugere que, por mais que uma IA possa emular processos criativos, ela não pode reproduzir a essência do que é ser humano. A arte, ao contrário da produção automatizada, é uma expressão da experiência humana em toda a sua riqueza, imprevisibilidade e singularidade.
No entanto, a introdução da IA no campo da arte também levanta uma reflexão crítica sobre o que realmente valorizamos em uma obra de arte. Será que o valor reside na perfeição técnica ou na capacidade de uma obra nos tocar de maneiras profundas e inesperadas? Noam Chomsky, em suas discussões sobre linguagem e mente, destaca que a criatividade humana é inerentemente imprevisível e não pode ser totalmente capturada por sistemas determinísticos. Isso implica que a arte verdadeira, impregnada de subjetividade, é algo que ultrapassa as capacidades da IA, que se limita a operar dentro dos parâmetros estabelecidos por seus programadores.
Essa subjetividade na arte não é um mero detalhe; é a essência que dá vida a uma obra, que a torna única e capaz de ressoar emocionalmente com os outros. O fazer artístico é, portanto, um processo de síntese criativa, onde o artista absorve o mundo ao seu redor — suas complexidades, emoções e contradições — e as transforma em algo novo e profundamente pessoal. Ao contrário das máquinas, que podem gerar variações infinitas de uma mesma fórmula, o artista humano traz à tona algo genuinamente original, fruto de sua vivência e introspecção.
A presença crescente da IA no mundo da arte desafia-nos a redefinir o que entendemos por criatividade e valor estético. Enquanto as máquinas podem simular certos aspectos da produção artística, elas não podem capturar a experiência subjetiva que dá sentido e profundidade à arte. Nicolelis e Chomsky, cada um à sua maneira, sublinham a importância da consciência e da imprevisibilidade como elementos essenciais da criatividade humana. Isso nos lembra que, em última análise, a arte não é apenas sobre técnica; é sobre a expressão da condição humana, algo que permanece fora do alcance das máquinas.
Portanto, ao trazer uma abordagem mais científica ao debate, ressalta-se a importância de preservar e valorizar o que torna a arte verdadeiramente humana: a capacidade única de criar a partir da subjetividade e da complexidade da experiência vivida. Em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, é crucial lembrar que a verdadeira essência da arte reside não apenas na habilidade, mas na alma do artista — algo que, até onde sabemos, permanece inimitável por qualquer inteligência artificial.
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