A arte aprisionada: como a pressão econômica transforma criatividade em pseudo-Arte
- W. Gabriel de Oliveira
- 9 de set. de 2024
- 2 min de leitura

O mundo da arte, que antes era um santuário de expressão, vem se tornando uma fábrica de conteúdo para alimentar o apetite insaciável de um público volátil e entediado. O artista, que antes criava por paixão e necessidade interna, agora se vê forçado a produzir incessantemente para sustentar uma base de seguidores. Não há mais tempo para reflexão, para maturação de ideias, para experimentar o novo. Hoje, o ritmo é ditado pelo algoritmo, pela pressão econômica que exige relevância contínua e instantânea. Maria Gadú, artista reconhecida por sua postura crítica em relação à indústria, tem se manifestado contra essa lógica. Em entrevistas, ela aponta o impacto dessa pressão mercadológica, que rouba a essência do processo criativo e transforma o artista em uma máquina de produção de "pseudo-arte". É uma verdadeira arte aprisionada.
Nesse novo cenário, o que vemos é uma economia que destrói a criatividade ao exigir que o artista seja relevante o tempo todo, criando conteúdo repetitivo e, muitas vezes, vazio. Segundo Lipovetsky (2010), vivemos a era da hipermodernidade, na qual a cultura do consumo rápido permeia todas as esferas da vida, incluindo a arte. O artista, agora um produtor de conteúdo, se vê aprisionado nessa lógica, perdendo sua liberdade criativa em nome da sobrevivência econômica. Para manter a visibilidade, muitos artistas se rendem a fórmulas fáceis e previsíveis, esgotando sua própria capacidade de inovação.
O comportamento do consumidor é parte dessa equação destrutiva. O público, habituado a um fluxo interminável de informações e estímulos, rapidamente se cansa de qualquer coisa que não seja nova e excitante. Bourriaud (2002), em seu conceito de "pós-produção", sugere que a arte contemporânea se tornou uma mera recombinação de elementos já existentes, uma reciclagem infinita que reflete o esgotamento criativo da nossa era. A busca por novidade é incessante, mas superficial e o tédio, inevitável. Essa dinâmica pressiona ainda mais o artista, que precisa se reinventar continuamente, mas sem tempo para fazê-lo de maneira genuína.
O resultado disso é uma arte diluída, sem profundidade, sem propósito, criada apenas para preencher o espaço vazio das redes sociais. E o artista? Ele se transforma em um autômato, respondendo à demanda de um mercado que o consome e o descarta com a mesma rapidez. Gadú está certa ao resistir a essa lógica. Como ela mesma disse em entrevistas, essa pressão para se manter relevante "rouba a alma do artista".
Referências bibliográficas
BOURRIAUD, N. *Pós-produção: Como a arte reprograma o mundo contemporâneo*. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
LIPOVETSKY, G. *A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo*. 8. ed. Barueri: Manole, 2010.
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