A reviravolta política da Meta: como a nova era de Zuckerberg está transformando a internet em um território sem lei
- Louise Kataryne Freitas de Oliveira
- 12 de jan.
- 5 min de leitura

As recentes decisões da Meta, sob a liderança de Mark Zuckerberg, revelam uma guinada preocupante que contraria os princípios de diversidade, equidade e inclusão - outrora promovidos pela empresa.
O anúncio do fim dos programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), justificado por mudanças no "cenário legal e político" dos EUA, reflete uma capitulação às pressões conservadoras que buscam desmantelar avanços sociais significativos.
A eliminação do sistema de checagem de fatos, substituído por um modelo de notas da comunidade semelhante ao do X (antigo Twitter), abre espaço para a proliferação de desinformação e discursos de ódio, comprometendo a integridade das plataformas da Meta.
A permissão para que usuários classifiquem pessoas LGBTQIA+ como "doentes mentais" ou "anormais" é um retrocesso que legitima preconceitos e discriminações, colocando em risco a segurança e o bem-estar de comunidades já vulneráveis.
Em entrevista ao podcast de Joe Rogan, Zuckerberg afirmou que as empresas precisam de "mais energia masculina" e criticou a cultura corporativa por se tornar "neutra".
Essa retórica não apenas desvaloriza as contribuições de mulheres e minorias, mas também promove uma visão ultrapassada e tóxica de masculinidade, incompatível com os valores de uma sociedade inclusiva e diversa.
Essas ações e declarações de Zuckerberg evidenciam uma desconexão alarmante entre o discurso e a prática da Meta, traindo a confiança de milhões de usuários que acreditavam nos valores de inclusão e diversidade propagados pela empresa.
Ao ceder às pressões políticas e adotar medidas que favorecem a desinformação e a discriminação, a Meta compromete sua responsabilidade social e ética, colocando em xeque sua credibilidade e relevância no cenário global.
É importante que sociedade civil, organizações de direitos humanos e usuários das plataformas da Meta reflitam com bastante criticidade sobre a reversão dessas políticas e busquem uma reafirmação de compromisso genuíno com a diversidade, equidade e inclusão, pois é isso que gera a evolução da sociedade, não seu retrocesso.
A omissão diante desses cenário representa uma cumplicidade inaceitável com a perpetuação de injustiças e desigualdades que não podem ser toleradas em uma sociedade que almeja progresso e justiça social.
Para uma compreensão mais aprofundada das declarações de Mark Zuckerberg, recomenda-se assistir à entrevista completa concedida ao podcast de Joe Rogan.
Assistiu? Caso sim, acredito que tenha visto o anúncio sobre as mudanças radicais nas políticas da Meta, incluindo o que falei sobre o abandono de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), com o fim da checagem de fatos e a flexibilização de regras de moderação. Chegou a ver essa parte?
Isso, definitamente, marca um ponto de inflexão preocupante na história da empresa. A Meta, antes defensora de valores progressistas, realmente parece estar cedendo a pressões políticas e econômicas, expondo uma transformação contraditória que merece ser analisada em profundidade.
O passado progressista da Meta
Não sei se você se lembra, mas, historicamente, a Meta construiu sua marca com base em valores de inclusão e responsabilidade social. E tudo isso foi alcançado com campanhas que destacavam a diversidade e a liberdade de expressão. Foi assim que a empresa buscou criar um ambiente que refletisse as demandas de uma sociedade mais plural. Políticas de moderação rigorosas para combater discursos de ódio, ferramentas de checagem de fatos em parceria com organizações respeitadas e um compromisso público com DEI ajudaram a Meta a projetar uma imagem de empresa alinhada com o progresso social.
Mas agora, o que parece acontecer é que esses esforços, embora criticados como insuficientes por alguns setores, eram essenciais para mitigar os impactos negativos da influência das plataformas digitais na sociedade. A empresa se posicionava como um bastião contra a desinformação, o preconceito e a toxicidade online, ainda que esses problemas nunca tenham sido completamente resolvidos.

Os impactos do presente regresso e os possíveis motivos
Como falado, as recentes mudanças representam um abandono desse posicionamento. A extinção de programas de DEI e a redução das iniciativas de moderação sugerem uma guinada em direção a uma postura mais "neutra", mas que na prática significa a tolerância a conteúdos discriminatórios e desinformativos. Declarações como a de Mark Zuckerberg, em que defende a necessidade de "mais energia masculina" no ambiente corporativo, por exemplo, contradizem os valores progressistas defendidos no passado.
Outro exemplo supracitado é que a decisão de encerrar a checagem de fatos em favor de um modelo de "notas da comunidade" demonstra que o poder de Elon Musk no governo de Donald Trump já está causando efeitos intensos, porque transfere a responsabilidade de combater a desinformação para os próprios usuários. Isso ignora o fato de que a desinformação é muitas vezes amplificada por dinâmicas algorítmicas que favorecem conteúdos sensacionalistas, colocando em risco a credibilidade das plataformas e a segurança dos usuários.
Possíveis Motivos para a Mudança
Pressões Políticas e Regulatórias
A polarização política nos EUA e em outros países, combinada com o aumento da regulação sobre grandes empresas de tecnologia, parece ter influenciado a Meta a adotar uma postura mais conservadora. A ascensão de legisladores contrários a políticas progressistas pode ter forçado a empresa a realinhar suas estratégias para evitar sanções ou perder acesso a mercados estratégicos.
Corte de Custos
A Meta enfrenta desafios financeiros significativos, incluindo a queda na receita publicitária e os custos crescentes associados ao desenvolvimento do metaverso. Programas de DEI e iniciativas de moderação requerem investimentos consideráveis, e seu desmantelamento pode ser uma tentativa de reduzir despesas, ainda que isso tenha um alto custo social.
Reação a Críticas de "Viés Progressista"
Grupos conservadores frequentemente acusam empresas de tecnologia de terem um viés progressista e de censurar opiniões divergentes. Ao abandonar políticas de inclusão e moderar menos os conteúdos, a Meta pode estar tentando apaziguar esses grupos, ainda que isso signifique alienar comunidades historicamente marginalizadas.
Realinhamento de Mercado
Com a concorrência crescente de plataformas como X e TikTok, que se posicionam como menos regulamentadas, a Meta pode estar tentando atrair usuários insatisfeitos com moderação mais rigorosa. Esse movimento, no entanto, arrisca transformar a empresa em um espaço hostil, afastando os usuários que buscam ambientes mais seguros.
Impactos no Futuro da Meta
Se no passado a Meta foi vista como uma empresa que, mesmo com falhas, buscava equilibrar interesses comerciais com responsabilidades sociais, hoje sua postura sinaliza um distanciamento de qualquer compromisso com os direitos humanos e a justiça social. Isso pode gerar uma série de consequências negativas:
Erosão da Confiança do Usuário
Usuários que valorizam um ambiente digital inclusivo e ético podem migrar para plataformas concorrentes, especialmente se perceberem que a Meta prioriza lucro acima de segurança.
Aumento da Desinformação e do Discurso de Ódio
Sem uma moderação eficaz, é provável que as plataformas da Meta se tornem ainda mais suscetíveis à disseminação de notícias falsas e discursos discriminatórios, exacerbando divisões sociais e conflitos.
Críticas Públicas e Boicotes
Organizações de direitos humanos, governos e anunciantes podem boicotar a Meta, reduzindo ainda mais sua receita e pressionando por mudanças futuras.
Uma visão crítica sobre essa transformação
A guinada da Meta revela um dilema clássico das grandes corporações: o que fazer quando valores progressistas entram em conflito com interesses econômicos e políticos?
As escolhas de Zuckerberg sugerem que, para a Meta, o lucro imediato e a sobrevivência política têm precedência sobre qualquer compromisso ético.
Ao abandonar políticas que protegiam comunidades vulneráveis e combatiam a desinformação, a Meta corre o risco de perder sua legitimidade como ator relevante no debate global sobre os impactos das plataformas digitais na sociedade. Pior ainda, ela cria um precedente perigoso, incentivando outras empresas de tecnologia a adotar posturas iguais.
Essa transformação não deve ser vista apenas como uma escolha empresarial, mas como um reflexo das pressões e dinâmicas políticas que moldam o mundo digital contemporâneo. É por isso que resta à sociedade civil, aos legisladores e aos próprios usuários exigirem que empresas como a Meta sejam responsabilizadas por suas ações e por seu impacto no tecido social.
Se o silêncio prevalecer, a Meta não será apenas um reflexo da desinformação que ajudou a disseminar, mas também uma força ativa na erosão dos valores democráticos e dos direitos humanos no ambiente digital.
Autora: Jornalista Louise Kataryne Freitas de Oliveira (MTB 1873)
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