Como as Redes Sociais estão moldando sua mente: os impactos invisíveis do seu excesso tempo online
- W. Gabriel de Oliveira
- 16 de out. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 29 de out. de 2024

O gráfico intitulado Digital 2023: Global Overview Report oferece um panorama sobre o uso das redes sociais no Brasil, revelando dados importantes sobre as plataformas mais populares, os horários ideais para postagens e o tempo médio que o brasileiro gasta nas redes diariamente. Esses dados são de grande relevância tanto para profissionais de marketing quanto para pesquisadores e educadores que analisam o impacto das tecnologias digitais na sociedade.
Redes sociais mais usadas
Conforme o "WE ARE SOCIAL" (2023), o WhatsApp lidera o uso no Brasil, com impressionantes 93,4% de adesão entre os usuários de internet, seguido de perto por Instagram (89,8%) e Facebook (86,8%). O aplicativo chinês TikTok aparece com 65,9%, o que reflete o crescimento meteórico da plataforma entre jovens e criadores de conteúdo. Interessante notar a presença de Telegram e Kwai.
Continuando a análise do gráfico "Estatísticas de Redes Sociais" sobre o comportamento digital no Brasil, é essencial aprofundarmos a reflexão sobre as dinâmicas que essas plataformas impõem à sociedade contemporânea. As redes sociais, inicialmente vistas como ferramentas de conexão e entretenimento, gradualmente se transformaram em um ecossistema de dependência emocional e mercadológica, com impactos profundos em várias esferas da vida social e individual.
A profundidade da dependência digital
Um ponto que precisa ser destacado é o tempo médio diário que o brasileiro gasta nas redes sociais, 3h37 por dia. Essa quantidade de tempo é significativa e mostra como as redes sociais se tornaram não apenas uma ferramenta de lazer, mas uma verdadeira extensão da vida cotidiana. Se considerarmos que o tempo ativo de trabalho ou estudo gira em torno de 8 horas diárias, o tempo gasto nas redes sociais representa quase 50% do período produtivo diário de uma pessoa.
Zuboff (2019) introduz um conceito importante em The Age of Surveillance Capitalism: as redes sociais, longe de serem plataformas neutras de conexão, são estruturadas para capturar o máximo possível da atenção humana e transformar essa atenção em lucro.
Isso se dá por meio da coleta de dados e personalização de conteúdo, criando um ciclo vicioso no qual quanto mais tempo o usuário gasta na plataforma, mais segmentado seu conteúdo se torna, prolongando ainda mais o uso. Esse processo gera uma "economia da atenção", em que o tempo se torna a moeda de troca.
Além disso, esse tempo elevado levanta questões de saúde mental. Segundo Twenge (2017), a geração que mais utiliza redes sociais (jovens entre 15 e 25 anos) demonstra uma correlação preocupante entre o uso excessivo dessas plataformas e o aumento de sintomas de depressão, ansiedade e sensação de isolamento social. A falsa impressão de conexão emocional, proporcionada pelas redes, muitas vezes se transforma em solidão e superficialidade nas interações humanas.
O monopólio das plataformas e a concentração do poder
Outro ponto de análise importante no gráfico é a concentração de poder entre algumas poucas plataformas. O domínio do WhatsApp, Instagram, Facebook e TikTok - todas essas pertencentes a gigantes da tecnologia (Meta e ByteDance) - aponta para um monopólio digital. Essas empresas controlam a maior parte da comunicação e do entretenimento digital no Brasil.
Esse domínio levanta a questão da privacidade dos dados. Quanto mais tempo os usuários passam nessas plataformas, mais dados são coletados sobre seus comportamentos, preferências e interações. Shoshana Zuboff (2019) argumenta que o "capitalismo de vigilância" representa uma nova fase de exploração, em que o produto vendido não é mais apenas publicidade, mas as próprias informações sobre os usuários, extraídas de suas interações. O Brasil, como terceiro maior consumidor mundial de redes sociais, se encontra no centro dessa dinâmica de exploração de dados.
Além disso, a crescente monopolização do mercado digital pelas grandes empresas de tecnologia limita a concorrência e a inovação. A falta de alternativas diversificadas contribui para uma estagnação do modelo atual de redes sociais, que se baseia em maximizar o tempo de uso e a exposição a anúncios, em detrimento de experiências mais saudáveis e equilibradas para o usuário.
Impactos Sociais: educação, política e cultura
O impacto dessas redes se estende muito além da esfera individual. O setor educacional e o debate político são diretamente afetados pelo uso dessas plataformas. No campo da educação, Turkle (2011) sugere que o tempo gasto nas redes pode interferir na capacidade dos jovens de se concentrar em tarefas mais complexas, como leitura crítica, reflexão e escrita. Com a crescente influência das redes sociais como fonte primária de informação, muitos jovens brasileiros estão substituindo fontes confiáveis por conteúdos rápidos e muitas vezes sensacionalistas que encontram no WhatsApp e Instagram.
Essa mudança no consumo de informação também afeta a política. O WhatsApp, sendo a rede mais usada no Brasil, desempenhou um papel crucial nas eleições de 2018, com a disseminação de notícias falsas e teorias da conspiração. Estudos como os de Silva (2020) confirmam que as redes sociais, especialmente as que permitem comunicação fechada como o WhatsApp, tornaram-se zonas perigosas para a difusão de desinformação, ameaçando o debate democrático e informacional. O Brasil, sendo uma sociedade altamente conectada e politicamente polarizada, está mais suscetível a essas manipulações.
Culturalmente, o gráfico demonstra a mudança nas dinâmicas de entretenimento. O TikTok, com 65,9% de adesão, é um exemplo claro de como os formatos curtos de vídeo se tornaram dominantes. A cultura do "microentretenimento" gera um consumo rápido e contínuo de conteúdo, o que pode levar a uma redução na profundidade das experiências culturais. A preferência por conteúdos rápidos e que exigem pouca reflexão pode, com o tempo, impactar negativamente a produção de conteúdo artístico e cultural de maior complexidade.
Reflexões Pedagógicas e os Desafios da Digitalização
Em termos pedagógicos, o desafio é imenso. A inclusão digital tem sido vista como uma solução para diversos problemas educacionais, mas os números mostram que a digitalização sem um direcionamento pedagógico adequado pode ser prejudicial. O uso excessivo de redes sociais por parte dos jovens brasileiros muitas vezes não é canalizado para o aprendizado, mas sim para o entretenimento superficial e para a interação social de baixa qualidade.
No entanto, educadores podem utilizar essas redes de maneira estratégica. Hermínio Borges Neto, com sua metodologia Sequência Fedathi, sugere que tecnologias podem ser usadas de maneira a incentivar o raciocínio crítico e a construção do conhecimento. O desafio está em criar estratégias que tornem essas plataformas um ambiente de aprendizado, em vez de apenas um espaço de distração. Uma abordagem pedagógica mais crítica e reflexiva pode ajudar a mitigar os efeitos negativos dessas tecnologias na educação, mas isso exige investimento e formação contínua dos professores.
Desafios éticos e regulação
Há uma necessidade urgente de discutir a regulação das redes sociais. As plataformas estão, de certa forma, isentas de responsabilidades sobre o conteúdo que circula em seus espaços, o que abre portas para a disseminação de desinformação, violência digital e discursos de ódio. Zuboff (2019) defende que, para mitigar os danos do capitalismo de vigilância, é necessário que os governos regulem o uso de dados e imponham limites à exploração da atenção humana.
No contexto brasileiro, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é um passo importante, mas ainda há muito o que ser feito em termos de fiscalização e de educação sobre privacidade digital. O alto consumo de redes sociais no Brasil aponta para a necessidade de um debate mais sério sobre como essas plataformas impactam os direitos fundamentais dos cidadãos, desde a privacidade até a segurança informacional.
O gráfico Estatísticas de Redes Sociais apresenta números impressionantes sobre o comportamento digital dos brasileiros.
Embora as redes sociais ofereçam benefícios em termos de conexão e democratização da informação, seus efeitos negativos não podem ser ignorados. O tempo excessivo gasto nas plataformas, a concentração de poder nas mãos de poucas empresas e os impactos sociais e culturais exigem uma reflexão profunda sobre o futuro da sociedade digital no Brasil.
A educação e a política são setores que precisam lidar de maneira mais consciente com essas plataformas, criando estratégias para um uso mais saudável e informativo. Além disso, a regulação e o controle das grandes empresas de tecnologia são passos essenciais para garantir que o uso das redes sociais seja benéfico para a sociedade como um todo, não apenas para os interesses comerciais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aqui estão as referências formatadas de acordo com as normas da ABNT 2024:
CARR, Nicholas. The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains. New York: W.W. Norton & Company, 2010.
COMSCORE. Digital 2023: Social Media Usage in Latin America. Disponível em: <https://www.comscore.com>. Acesso em: 16 out. 2024.
SILVA, Vitor Henrique Paro. O impacto das redes sociais na política brasileira. In: BARBOSA, André. Democracia Digital e Fake News: Desafios e Perspectivas. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2020.
SPROUT SOCIAL. Melhores horários para postar nas redes sociais. Disponível em: <https://sproutsocial.com>. Acesso em: 16 out. 2024.
TURKLE, Sherry. Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other. New York: Basic Books, 2011.
TWENGE, Jean M. iGen: Why Today's Super-Connected Kids Are Growing Up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy – and Completely Unprepared for Adulthood. New York: Atria Books, 2017.
WE ARE SOCIAL. Digital 2023: Global Overview Report. Disponível em: <https://wearesocial.com/digital-2023>. Acesso em: 16 out. 2024.
ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. New York: PublicAffairs, 2019.
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